terça-feira, 3 de julho de 2012

Primeiras impressões sobre o BRT-Rj


Semana passada resolvi experimentar o BRT, sistema novo de transportes implantado aqui no Rio de Janeiro. Fiquei muito feliz em saber que este plano finalmente saiu do papel, e servirá de base para as mudanças exigidas para a infraestrutura dos eventos esportivos que serão sediados aqui. Neste plano, quatro corredores serão criados: O Transcarioca, ligando a o Aeroporto do Galeão a Barra da Tijuca; Transolimpica, Deodoro-Barra da Tijuca; Transbrasil, Deodoro-Centro e Transoeste, Santa Cruz-Barra da Tijuca. Percebam como o vetor de desenvolvimento da cidade lentamente vai tirando a relevância do Centro do Rio e movendo para a Zona Oeste, mais precisamente, para a Barra da Tijuca. Em 2016, todos os caminhos levarão a Barra da Tijuca. Ainda sim este é um aspecto positivo geograficamente, pois a ocupação e desenvolvimento do território perderá o caráter concentrador no sentido do Centro, como observamos desde 1900 até hoje.

O sistema do BRT conta com ônibus articulados (visualmente são dois ônibus unidos por uma sanfona), estações em nível, ou seja, para entrar no veículo, você simplesmente anda para a frente, em vez de subir em um degrau, como é feito hoje nos ônibus urbanos. Isto gera mais conforto ao usuário além de ser mais acessível a pessoas com problemas de mobilidade, idosos, cadeirantes etc.


Somente pode entrar no veículo quem estiver dentro da estação, e isto é uma mudança importante na cultura do passageiro carioca, acostumado a "estender o braço" em qualquer lugar e acessar o ônibus ou qualquer veículo do chamado Transporte Alternativo, que em uma nomenclatura mais apropriada convencionou-se chamar Transporte Especial Complementar (TECs), independente das questões de segurança envolvidas.




O acesso ao sistema e bem facilitado, as estações são padronizadas, o que automaticamente as transforma em monumentos, elementos de referencia aonde quer que estejam instalados. Vai ser interessante observar o desenvolvimento local tendo como novo centro as estações, como aconteceu anteriormente com as estações da linha férrea, em seguida os pontos de parada do transporte alternativo.
As estações foram construídas de acordo com especificações de acessibilidade, com rampas, sonorização, pisos táteis, mas não foi definido um "perímetro acessível". Em algumas estações, quem possui algum tipo de problema motor, ou idosos sequer conseguirão acessar a estação pois em seus bairros, as calçadas no entorno não são preparadas para este tipo de usuário.

As estações são climatizadas e tem bancos, o que dá um conforto ao usuário e automaticamente faz o transporte convencional parecer um sistema improvisado e desengonçado de serviço, o que ficará evidenciado na integração ônibus-BRT, a qual falarei adiante. Outro fato importante a ser ressaltado nesta experiência é de que o veículo, assim como os trens e o metrô, possui prioridade total na via na maio parte de seu trecho possui uma faixa exclusiva, o que permite alto carregamento de passageiros e dará aquela sensação de " estar fazendo a coisa certa" ao usuário que deixar o carro em casa e observar quilômetros de trânsito congestionado passando pelos seus olhos enquanto segue tranquilo para casa.

Vídeo–resumo do plano de transportes e do sistema BRT


Outro lado bastante positivo da implantação do BRT é o custo para o usuário. Quem possui o Bilhete Único poderá realizar até 3 viagens por R$ 2,75(Junho 2012). Em se tratando da cidade das dimensões do Rio de Janeiro, podemos falar em viagens que podem ultrapassar 50km, e isto com 3 trechos (ex. Linha Alimentadora - BRT - Linha Alimentadora). Para os bairros atendidos isto representará uma mudança nos níveis de empregabilidade, pois o custo de transporte no Rio tornou-se uma barreira para o encaixe nas oportunidades de trabalho, principalmente para os moradores de bairros distantes como Barra de Guaratiba ou Santa Cruz. O volume de viagens no sentido Santa Cruz-Barra da Tijuca/Centro em 2009 já viabilizava a implantação do BRT, e nas conversas que tive com o Marcos Tognozzi, que cuidou do planejamento, junto todo o pessoal da SMTR , deste sistema como podemos ver implantado hoje. Por um motivo ou outro, tivemos a felicidade de presenciar a construção de uma nova etapa no desenvolvimento de nossa cidade, este excelente projeto saiu do papel.

Percebe-se que precisamos agora "arrumar a casa", pois a eficiência deste sistema evidenciará a falta de planejamento do sistema de transportes como um todo. A bagunça da operação dos ônibus não combina com os horários precisos de entrada/saída dos veículos do BRT nas estações, fazendo com que a integração modal seja um jogo de azar: a probabilidade de você sair do BRT e pegar sua próxima condução "just in time", na mosca, é remota!


Hoje, um mês após a implantação do sistema, há mais pontos positivos que negativos. Segundo a própria SMTR, em breve teremos 110 carros, ao invés de 40. Mais de mil árvores foram retiradas, de acordo com o Alexandre da Fonte, presidente da associação de moradores do Recreio (Amore) , mas a Fundação de Parques e Jardins informa que nesta fase já tem 400 sendo replantadas (Ainda não sabemos se existirá "outra" fase). Muito ainda há de ser feito, mas o fato de termos parte de um plano maior de mobilidade urbana, revisitando nosso histórico político de falácias e placebos imediatistas, estamos dando um belo de um passo.





 
 
 
 

Nenhum comentário: